Confrontos entre Exército e paramilitares deixam 27 mortos no Sudão

Escrito por em 17/04/2023

Protestos políticos acontecem no Sudão desde o começo de abril Imagem: MOHAMED NURELDIN ABDALLAH/REUTERS

Cartum, capital do Sudão, foi sacudida por várias explosões e disparos na noite deste sábado (15), após um dia de confrontos nas ruas, ataques aéreos e ameaças mútuas entre os dois generais que chefiam o país desde o golpe de 2021.

Protestos políticos acontecem no Sudão desde o começo de abril Imagem: MOHAMED NURELDIN ABDALLAH/REUTERS

Ambos os lados também se enfrentam pelo controle da imprensa estatal, segundo testemunhas. O sinal de televisão parece ter sido suspenso.
Os moradores de Cartum estão entrincheirados em suas casas. “Como todos os sudaneses, estamos abrigados”, tuitou o embaixador americano, John Godfrey.
“Faço um apelo aos altos comandos militares para que ponham fim aos confrontos, imediatamente”, acrescentou.

O governo brasileiro pediu “moderação” e expressou seu “apoio às negociações políticas […] com o objetivo de restabelecer um governo civil de transição”.
Os apelos a um cessar-fogo, que vieram, ainda, de ONU, Rússia, França, Itália, União Africana, Liga Árabe, União Europeia e, inclusive, do ex-primeiro-ministro civil sudanês Abdallah Hamdok, não foram ouvidos.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou, por meio de seu porta-voz, que uma “escalada no conflito terá um impacto devastador para os civis e vai agravar ainda mais a já precária situação humanitária do país”.

A Liga Árabe, a pedido do Egito e da Arábia Saudita, vai celebrar uma reunião de emergência no domingo para discutir a situação no Sudão.

– “Mentiras” –

Durante o golpe de dois anos atrás, Hemedti e Burhan uniram forças para expulsar os civis do poder. Mas com o tempo, as desavenças entre os dois foram crescendo até resultar em violência.

Hemedti, que há pouco se colocou do lado dos civis e, portanto, contra os militares nas negociações políticas, qualificou seu ex-aliado, agora rival, de “criminoso que destruiu o país”.

As FAR, que reúnem ex-milicianos da guerra de Darfur, asseguram que foram “surpreendidas de manhã pela chegada de um grande contingente do exército que sitiou seu acampamento, em Soba”, no sul de Cartum, e as “atacou com todo tipo de armas pesadas e leves”.

O exército regular denunciou o que chamou de “mentiras” e acusou as FAR e ter iniciado as hostilidades.

“Os combates começaram quando as FAR atacaram bases do exército em Cartum e em outros locais do Sudão”, disse à AFP o general Nabil Abdallah, porta-voz do exército. O Exército, acrescentou “cumpre seu dever de proteger a pátria”.

Os desacordos entre os dois lados se concentram, principalmente, no futuro dos paramilitares e sua integração às Forças Armadas.

Embora o exército não rejeite sua integração, quer impor suas condições e limitar sua incorporação com o tempo.

O general Daglo exige uma inclusão ampla e, sobretudo, um cargo para ele no estado-maior.

Esta disputa bloqueia a transição democrática, exigida pela comunidade internacional para retomar a ajuda ao Sudão, um dois países mais pobres do mundo.


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